quarta-feira, 17 de agosto de 2011

De Puno a La Paz


22 e 23º dia da viagem
O dia amanheceu ensolarado, mas a temperatura... em torno de sete graus quando saímos de Puno. Sem pressa, afinal nosso destino de hoje era bastante perto: Copacabana, na Bolívia,
Quando ganhávamos a estrada, dois policiais, em moto, fizeram sinal para parar. Droga! Estava indo tão bem. Durante toda a viagem, ninguém tinha nos parado ainda. Fazer o quê?
Pediram os documentos da moto, licença para conduzir, e seguro internacional. Ufa! Até que enfim o trabalhão que tivemos para conseguir o seguro SOAT vai ser compensado. Enquanto um deles examinava os documentos, o outro admirava a moto, com olhos bastante arregalados.
- Quantos cavalos? Que cilindrada? Quanto custa? Quanto corre...
Aquele que olhava os documentos se desinteressou deles e, juntamente com seu colega, passou a prestar mais atenção à moto. Respondi todas as perguntas, e fomos liberados.
Logo chegamos à fronteira com a Bolívia, em Kasani. A liberação pela aduana peruana foi rápida, imigração idem, mas um policial me chamou para seu gabinete. E foi pedindo: passaporte (mostrei-lhe a identidade, documento com o qual entrei no Peru), documentos da moto, licença para conduzir, seguro internacional (outra vez?), licença internacional para conduzir, e certificado internacional de vacinação (?). Mostrei-lhe todos, e meio sem jeito, me liberou.
Agora vamos fazer o trâmite na Bolívia.
Como de costume, lá vou eu para a fila da imigração, enquanto Terezinha fica cuidando da moto. O policial que examinou os documentos, pergunta pela Senhora. Respondi ficou lá fora, mirando a moto (a moto estava rodeada de curiosos, civis e policiais, que não se limitavam a simplesmente olhar, mas precisavam tocar, como que duvidando da realidade à sua frente).
Ele não gostou. Me cravou um olhar de “seca pimenteira” e disse:
- Aqui não é necessário isto. Nós, os bolivianos, somos todos honrados (como quem diz, aqui não temos ladrões).
Gelei, mas fui salvo pelo gongo, digo, pelo ônibus.
Naquele momento havia chegado um ônibus cheinho de turistas, então, prontamente respondi ao policial olhando para toda aquela gente:
- Mas senhor, há muitos estrangeiros por aqui!
- Está bien, respondeu ele. Ufa!
O trâmite foi rápido. Só a fotocópia do documento da moto, e da licença para conduzir.
Num instante e já estávamos a caminho.
Copacabana é uma cidade pequena, de 8 mil habitantes, aproximadamente, mas que, devido à presença da imagem da Virgem de Copacabana, recebe milhares de peregrinos (algo como em Aparecida do Norte).
Nos hospedamos no Hotel Utama. Bom. Novo, pessoal amável, com farta mesa de frutas, chás, pipocas, caramelos, free 24 horas.
Lá encontramos um simpático jovem casal de brasileiros, viajando em ônibus: o Danilo e a Camila.
Como é bom encontrar compatriotas. Ouvir o bom e velho português.
À Tarde fomos conhecer a Isla Del Sol, onde existem várias ruínas da civilização Inca. Belo passeio.
À noite, más notícias nos chegam: moradores da localidade El Alto, por onde vamos passar amanhã para chegar a La Paz, estão bloqueando a estrada.
Por telefone, o nosso amigo Maico, de La Paz, nos dá algumas orientações, para podermos seguir tranqüilos.
Amanheceu muito frio. Algo em torno de quatro graus. Mesmo, lá vamos nós. Em pouco tempo chegamos ao estreito de Tiquina, onde os veículos utilizam balsas para cruzar o Titicaca, que ali mede aproximadamente mil metros. Por orientação do nosso Grande Cacique Fazedor de Chuvas Dolor, a moto tem que entrar de ré na balsa, senão, fica muito complicado para sair na outra margem, já que entrada e saída são feitas somente pela popa.
Faltando vinte quilômetros, já na localidade de El Alto, me deparo com o que seria o primeiro bloqueio da estrada. Antes mesmo já havia sinais de bloqueio, com muitas pedras sobre a pista. Aí a solução foi abandonar o asfalto, e seguir pelas ruas do casario às margens da rodovia. Ruas essas em péssimas condições (o que mais tarde fomos saber, era um dos motivos do bloqueio, que visava chamar atenção das autoridades para o abandono que a região se encontra).
Mas os piqueteros, vendo que veículos estavam desviando e furando o bloqueio, simplesmente bloquearam todas as ruas do casario. Era praticamente impossível passar, mas mesmo assim, fomos tocando. Logo me deparo com um grupo deles. Vamos conversar. Pergunto por que estão fazendo aquilo, e a resposta vem em uníssono: o governo nos abandonou. Não temos estradas, ruas, escolas, sequer temos água em nossas casas.
Me identifico como turista brasileiro, lamento o que estão passando, e solicito permissão para passar. Um dos mais velhos deles, possivelmente um líder, se aproxima, pede uma ajuda para comprar refresco e que podemos seguir. Vinte pesos bolivianos, e lá vamos nós.
À frente, outro bloqueio, e a história se repete. São pessoas humildes, todos lutando por direito que julgam justo. Ao saberem que somos brasileiros, começam a falar em futebol. Então para descontrair, falei para eles: em 2014 a copa do mundo será no Brasil, e nós aguardamos o Peru para a competição. Enquanto eles me olhavam sem terem entendido o que falei, a Terezinha me lembrou que eles são bolivianos, e não peruanos. Que bola fora! Tratamos de sair dali o mais rápido possível, antes que alguém não gostasse da infeliz troca.
Finalmente, depois de quase uma hora perambulando pelas ruas do casario, conseguimos chegar ao asfalto, e logo nos encontramos com o nosso amigo Maico, que nos conduziu ao Hotel Camino Real Suites, na Zona Sul.









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