quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Confusão na Lagoa


Quarta-feira, 29 de agosto. Passava das nove da noite de ontem, quando recebemos a má notícia: a autorização para visitarmos a aldeia Boto Velho foi cassada. O cacique suspendeu todas as visitas por conta de uma reunião que acontecerá amanhã com o pessoal da Funai, e que não tem prazo para acabar. Soubemos que agentes da Funai flagraram índios, juntamente com homens brancos, pescando pirarucus, o que é proibido nesta época. Confusão armada, só nos resta cair fora. Que pena!
Decidimos não esperar o final de dita reunião. Poderá levar vários dias, e por aqui temos poucas opções de lazer. Então, vamos tocar em frente.
Nosso destino agora é Balsas, no Maranhão, visitarmos o Bispo Enemézio, primo da Terezinha, a quem tive o prazer e a honra de conhecer quando ainda éramos jovens de vinte anos. É para lá que vamos. Com um pouco de sorte, chegaremos lá ainda hoje. Afinal não é tão longe assim. Qualquer coisa em torno de setecentos quilômetros, que a GS deverá vencer até o final da tarde.
As queimadas, além de destruir a vegetação, ajudam a aumentar o calor
Movimento na BR 153, a belém-Brasília
O calor é sufocante. Termômetro oscilando entre 38 e 40º C.
Temperatura de viagem
Descansando numa refrescante sombra
Pois é. De repente ouvimos um ruído estranho na moto, como se alguma coisa estivesse grudado no pneu e ficava roçando. Parei para olhar, e nada!
Toquei mais um pouco, e em Nova Olinda vi uma oficina de moto à beira do asfalto. Falei com o mecânico, que depois uma olhada detalhada, nada viu de aparente, e me aconselhou a tocar em frente, até Araguaína, 50 Km adiante, cidade maior, com mais recursos.
Fui andando devagar, e logo o barulho foi diminuindo, até sumir quase por completo. Chegando em Araguaína, quando parei no hotel, notamos a roda traseira toda ensopada em óleo. Karaka!
No hotel me indicaram uma oficina, onde o mecânico está acostumado a consertar motos grandes – Elder Motos. Lá fui recebido pelo próprio Elder, que já se pôs a trabalhar e não demorou para vir o diagnóstico: estourou o rolamento e o retentor do diferencial.

Na oficina do Elder
Ao lado da oficina, está a sede do moto grupo Falcões de Aço. Não demorou, e já estávamos conversando com eles, contando das nossas andanças, e ouvindo das deles.
E de quebra, veio o convite para jantarmos juntos, e conhecermos o mais famoso prato típico da região, que o Eddie, um dos fundadores do grupo, fez questão de nos apresentar: o chambari. Trata-se de um refogado feito com os ossos da pata da rês, servido com arroz branco, temperinho verde (com bastante coentro) e farinha de mandioca. Muito bom! E acompanhado de cerveja bem geladinha, melhor ainda!
Com o Eddie, do Moto Grupo Falcões de Aço

Chambari


Além de excelente mecânico, Elder é o churrasqueiro do grupo
 Mas o mais importante nessa reunião foi o ambiente que encontramos: um verdadeiro grupo de amigos, com a presença das esposas e filhos, todos unidos em torno de um objetivo comum, que é cultivar o verdadeiro espírito do motociclismo.
Rafael e Luciane, abrilhantando o jantar
 Quinta-feira, 30 de agosto. Enquanto Elder trata do conserto da moto, aproveitamos para descansar e curtir o ar condicionado do hotel, afinal, a temperatura por aqui está sempre por volta dos 38 graus. Estamos hospedados no Hotel Araguatins (www.hotelaraguatins-to.com.br), fone (63) 3415-7500.
Um passeio pelo mercado público de Araguaína

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Lagoa da Confusão


Segunda-feira, 27 de agosto. Dia de folga para todos, usado especialmente para se livrar da poeira que acumulamos nas roupas durante o passeio ao Jalapão. Depois um passeio ao centro de Palmas para despachar algumas lembranças, principalmente artesanias em capim dourado, visitar nosso sobrinho Rogério, com quem almoçamos, e preparar o dia de amanhã, quando pretendemos visitar a Lagoa da Confusão e a Ilha do Bananal. Diomar está adoentado e não poderá nos acompanhar. Necessitamos um guia e principalmente, autorização para visitar uma aldeia indígena. Vamos procurar.
Com o Rogério, nosso sobrinho que mora e trabalha em Palmas
À noite, uma atividade muito especial com Bastião e Áurea (os caseiros do sitio do Diomar). Nos convidam para torrar castanhas de caju. Anteriormente eu já havia demonstrado a eles o meu interesse em saber como são preparadas as deliciosas castanhas de caju.
Bastião torrando castanha de caju
A castanha é separada do caju e posta ao sol para secar, por três dias. Depois, em uma forma com alguns furos, é levada ao fogo para secar ainda mais, quando então solta um óleo altamente inflamável. A forma vira verdadeira bola de fogo. Queimado o óleo, fogo apagado (abafado com terra), é hora de quebrar a casca para extrair a deliciosa iguaria. Fácil. Passo seguinte, comê-las.
Alguém chame dos bombeiros: nossa castanha está em chamas!
Terça-feira, 28 de agosto. Diomar e Elsa estão preocupados em agendar nosso passeio à Ilha do Bananal. Depois de vários telefonemas, finalmente conseguiram contato com uma guia turística em Lagoa da Confusão que vai nos encaminhar para visitação a uma aldeia indígena localizada na ilha. Fácil. Obrigado amigos!
Nossos novos amigos:Diomar, Bastião, Áurea e a pequena Agnes

A BM volta a cortar o cerrado, depois de uma semana de folga.
Até a Lagoa fomos de moto. Estrada boa, tudo asfaltado. Chegamos na metade da tarde, contatamos com Nara, a guia, que imediatamente nos apresentou ao Cacique Wagner, da aldeia Boto Velho, e a um taxista que nos levará em seu taxi, até esta aldeia – mais ou menos uns quarenta quilômetros daqui. Combinamos ir amanhã cedo, para aproveitar melhor o passeio.
Entrada da cidade
Balneário na Lagoa da Confusão

Aproveitamos o final da tarde para conhecer melhor a Lagoa da Confusão. A primeira pergunta que surge, é o porquê do nome: confusão. Existem várias explicações: a mais aceita, é de que os primeiros habitantes viram, do alto de uma montanha, uma imensa lagoa azul, protegida por serras e pântanos; a dificuldade que elas enfrentaram para chegar à lagoa gerou muita confusão. Por isso, o nome do povoado e posteriormente, do município.
Aí está ela, a famosa Lagoa da Confusão.
Há quem diga que o nome é por causa de uma pedra que aparece na lagoa, e que alguns juram que ela se movimenta, gerando confusão quando à sua exata localização.
Mais recentemente, apareceu nova versão: é a confusão que vive o povo brasileiro com sua política...
Estamos hospedados na Pousada Raiza – www.pousadaraiza.com.br – (63)3364-1811.
Palmeira real, no pátio da pousada.

Dunas do Jalapão


Domingo, 25 de agosto. Depois de uma reconfortante noite de sono, um excelente café da manhã, com duas novidades deliciosas: condessa, uma fruta muito parecida com a fruta-do-conde, tanta na aparência quanto no sabor; e o mangulão, uma espécie de pão de queijo, assado em forma de bolo (com furo no meio) e servido em fatias.
De Mateiros seguimos pela TO 255, já iniciando o nosso retorno. Mas antes, outra atração imperdível: as Dunas do Jalapão. Trinta e dois quilômetros de areia, buracos, pedras, e mais uma entrada de cinco quilômetros de pura areia, onde só é possível transitar veículos 4 x 4, e pronto. Cá estamos. A decomposição do arenito de um chapadão na Serra do Espírito Santo forma enormes bancos de areia alaranjada de até quarenta metros de altura. A sensação é de estar no meio de um deserto, cercado por riacho de águas cristalinas.
Serra do Espírito Santo

Com meu amigo Diomar, curtindo a paisagem



Subindo nas dunas. Fortis ventus

Uma panorâmica da região: o contraste do dourado com o verde

Mais dunas, mais verdes

Com meu amigo Diomar Naves, o Grande Vaqueiro

Vamos ver o que está escrito naquela placa!
Prosseguindo até Ponte Alta do Tocantins, tivemos uma novidade inesperada: ficamos sem freio. Rompeu-se o duto que leva fluido até uma das rodas da frente, e por ali perdemos todo o líquido do reservatório. Resultado: seguir mais lentamente, usando sempre o freio motor. Mais uma centena de quilômetros, muitos deles de pura pedra/areia/buracos e chegamos a Ponte Alta do Tocantins, onde reabastecemos, tanto com diesel, quanto o reservatório de fluído de freio. Daí prá frente, a estrada é asfaltada. Num instante chegamos a Porto Nacional e depois, Palmas. Finalmente, em casa, digo, na chácara do Diomar, para um reconfortante banho, jantar e caminha.
Nossa valente Ranger


sábado, 25 de agosto de 2012

Jalapão

Sexta-feira, 24 de agosto. Hoje vamos conhecer o Jalapão. Não é aconselhável ir de moto, devido às precárias condições das estradas. Então partimos para o plano B: aluguel de um carro, mais especificamente, uma camionete 4x4. Conseguimos uma Ford Ranger, por R$ 350,00 a diária, sem limite de quilometragem. Foi a única que encontramos. Devido a campanha política em andamento, todos os carros foram locados para os candidatos. O primeiro trecho, de cento e poucos quilômetros até Novo Acordo, tudo asfaltado. Beleza. Daí prá frente, caímos na realidade do Jalapão: estrada de terra, quero dizer, de areia fofa, piorada pela passagem dos competidores do raly dos sertões, hoje pela manhã. Foram 150 km muito ruins, até São Félix do Tocantins, onde pernoitamos na Pousada Capim Dourado (63-3376-1016).
Assim são as estradas no Jalapão

A beleza selvagem da região

Serra da Catedral
Na pousada, tivemos a oportunidade de conhecer uma dupla de competidores do raly, na categoria pickups, de São Paulo, cujo carro estava quebrado. Má sorte. Também, conhecemos dois mineiros, com suas possantes KTM 990, que vinham no rastro do raly. Esse raly começou em São Luis, veio até o Jalapão, e daqui retorna para Fortaleza. Muita adrenalina.
Chegamos em São Félix do Tocantins já era noite

Com os paulistas, participantes do Raly dos Sertões

Com os mineiros e suas possantes KTM, no Raly dos Sertões
Sábado, 25 de agosto. Depois de um saboroso café da manhã e de nos despedir de nossos amigos de véspera, seguimos para a Cachoeira da Formiga, onde nos refrescamos nas límpidas águas de uma piscina natural formada pela queda d´água. Dali seguimos para conhecer outro fenômeno do local, conhecido como Fervedouro. Trata-se de uma nascente de água que brota com tanta força, que é impossível afundar ali. E lá fomos nós comprovar o fenômeno. Osmar e Terezinha na água. Muito refrescante, mas nada de afundar. Então, vamos flutuar e curtir esse momento mágico.
Marcando território, no camping do Vicente

Cachoeira da Formiga

Um nativo da região e sua possante
Mais um pouco de estrada com muitos areões, onde a Ranger dançava para vencer a distância, e logo chegamos à Comunidade Quilombola do Mumbuca, onde surgiu o artesanato com o Capim Dourado, cujo brilho refletiu no Tocantins, no Brasil e no Mundo Inteiro.
O encontro entre o capim dourado e as mulheres do Mumbuca não foi obra do acaso. É alquimia divina, transformando vegetal em mineral, capim em ouro.
Mas turista também precisa comer. E ali mesmo, num rústico restaurante, saboreamos um dos mais deliciosos almoços desta viagem: feijão de corda, arroz branco, macarrão e o prato principal, galinha caipira ao molho, tudo feito em panelas de barro.

Banhando-se no "fervedouro"

Artesanatos de Capim Dourado
À tarde chegamos a Mateiros para pernoite. Escolhemos a Pousada Panela de Ferro (www.paneladeferro.tur.br). Ótima relação custo benefício.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Palmas


Segunda-feira, 20 de agosto. Nosso destino agora é Palmas, a capital do Tocantins. São aproximadamente 900 Km até lá. Acordamos tarde, depois de uma noite muitíssimo bem dormida, no confortável Hotel Mércure. E antes de deixar Brasília, uma rápida passada pela SQN 113 (Super Quadra 113 Norte), onde moramos no período de 1980 a 1984, quando ainda estava no Exército. Muitas saudades daqueles bons tempos.
Trecho da BR 153, a Belém-Brasília
Saindo de Brasília, seguimos pela BR 080 até esta se encontrar com a nossa velha conhecida, a BR 153, próximo a Uruaçu. Nesse trecho, o asfalto é bom, e com pouco movimento.

Na 153, o movimento de caminhões aumenta, e muito, mas em vez de prejudicar, até ajuda a combater a monotonia causada pelas extensas retas. O calor é intenso, e fortes rajadas de vento balançam a moto, lembrando de longe, os ventos patagônicos. A vegetação típica do cerrado aparece com mais frequência, mas o que predomina são as áreas desmatadas para a pecuária. Aqui e ali, normalmente nas baixadas, vegetação mais verde, onde predominam os buritis.
Ao longo de toda a estrada, barracas rústicas ostentando faixas com o seu principal produto de vendas: comida caseira, galinhada, self service.
Pernoitamos em Porangatu no hotel Atlanta (www.atlantahotelgo.com). Bom hotel. Gente muito atenciosa. Recomendo.
Terça-feira, 21 de agosto. Agora faltam somente quatrocentos e poucos quilômetros até Palmas, por isso não temos pressa em sair. Primeiro degustamos o excelente café da manhã oferecido pelo hotel, e lá pelas dez retomamos a viagem. Eram quase onze horas quando cruzamos a divisa, entrando no Estado do Tocantins, na cidade de Talismã.
Uma parada aqui para abastecer, outra acolá para um refresco, outra em Aliança do Tocantins para almoçar, e aí foi inevitável provarmos a tal da comida caseira, galinhada, self service. E gostamos. Do tempero da comida, da simpatia do pessoal do restaurante, da curiosidade de todos com relação à nossa moto. Todos querem saber a cilindrada, quanto corre, quanto custa, donde vêm, e por aí vai. Procuro responder a todos corretamente, apenas quanto ao preço da moto, apenas por precaução, informo valor mais baixo. Acho que consigo convencer o pessoal.
Aí nessa cidade, deixamos a BR 153 e tomamos a TO 050.
O sol castiga a região nesta época, que sente a falta de chuvas. O calor é quase insuportável. Em Brejinho de Nazaré, uma estratégica parada para saborear uma água de coco geladinha. Humm, que delícia!
Água de coco prá refrescar, em Brejinho de Nazaré-TO
Chegando a Palmas, fomos recepcionados pelo nosso amigo Diomar Naves, que nos aguardava em Taquaralto, com sua possante Suzuki Boulevar 1500 negra, a famosa “Tereza”. Não o conhecíamos pessoalmente, somente pela internet, através de seus relatos de viagens. Ele foi muito gentil conosco, e nos hospedou em sua chácara Raízes. Uma beleza de moradia, a uns cinco quilômetros de Palmas, rodeada de muito verde, e o mais absoluto silêncio. Ideal para repousar. E é disso que precisamos.
Chegando em Palmas, fomos recepcionados pelo Diomar

Seguindo nosso anfitrião em direção à sua Chácara

Diomar e seu piano, e boa música para todos nós.
Quarta-feira, 22 de agosto. Hoje é dia de citytour, de moto, por Palmas. Com o nosso amigo Diomar, lá fomos nós conhecer a capital mais nova do Brasil, fundada em 1989. Cidade planejada, tem avenidas largas e rotatórias ajardinadas. E aproveitamos a oportunidade, e a disposição do nosso guia, para fazer a foto em frente ao palácio Araguaia, sede do governo estadual, localizado na Praça dos Girassóis.
Palácio Araguaia, sede do governo do estado do Tocantins



Diomar nos levando aos principais pontos da cidade

Praia em Palmas, no lago formado pela represamento do rio Tocantins

À noite, jantar em grande estilo na Chácara, com as ilustres presenças da Elsa, a namorada de Diomar, que além de excelente cantora, é cozinheira de alto nível: o risoto de carne de sol estava supimpa! Com a presença do Rogério, nosso sobrinho e afilhado, que mora e trabalha aqui em Palmas. E Diomar abrilhantou a noite com sua viola, nos brindando com a boa música brasileira. Tudo perfeito!
Áurea e Elsa, grandes cantoras

Diomar e sua viola

Terezinha e Rogério

Quinta-feira, 23 de agosto. Como sempre acontece no mês de agosto, o dia amanheceu com fortes ventos por aqui, entortando ainda mais as já retorcidas árvores do cerrado. Juntos com Bastião e sua filhinha Agnes, fomos explorar os arredores da chácara, buscando árvores nativas de pequi e caju. Tem muitas por aqui. O pequi ainda está verde, impróprio para o consumo. Mas o caju já está no ponto. Frutas amarelas e vermelhas enfeitam as árvores e perfumam o ambiente. Saborosas, doces, muito boas para consuma in natura, como em forma de refresco.
Na parte da tarde, fomos pescar no Grande Tocantins. Somos inexperientes, mas sempre é muito agradável pescar. Principalmente na companhia de amigos, e de boa cerveja gelada. Como resultado, pescamos quatro peixes. Quatro cachorras, que lutaram com valentia, mas finalmente foram vencidas e trazidas para bordo. Oportunamente vamos degustá-las.
Pescando no rio Tocantins

Esta cachorra caiu no meu anzol

E à noite, aniversário de Elsa. Ela nos recebeu em sua residência para comemorar a data. Muitos amigos, muita alegria, muita felicidade. E nós colhemos da oportunidade para fazer novos amigos, entre os amigos de Elsa e Diomar.